sábado, 28 de maio de 2011

CADA DIA SE BASTA (desfecho)

A RETIRADA.


E cumpriu formalidades, assinou papéis diversos; correu de lá para cá. Pegou filas, recebeu apertos de mão, abraços e tapinhas nas costas.
Eram muitos os beneficiários. Sindicatos, partido, políticos amigos, museus, fundações, clubes, inclusive o advogado que leu o testamento. Emiliano cuidou de tudo pessoalmente para que fosse feito sem ressalvas, ao pé da letra e só após ter certeza que tudo estava conforme a vontade de seu pai, descansou.
Finalmente pôde voltar para sua casa de campo, longe de tudo e de todos aos quais não pertencia, para seu trabalho com a criação, com a horta e o pomar. Voltar para a escolha que havia feito a muito tempo.


Ensaiando um conto...
Paulo Roberto Wovst Leite.

sábado, 14 de maio de 2011

CADA DIA SE BASTA (parte 4)

ATO SOLENE.

O plenário repleto; sessão na Câmara Municipal. Especial menção honrosa e virou nome de ponte. Tenório da Silva, como disse o orador:
_ Homem destacado, bom cidadão, articulado e inteligente, grande político, enorme perda.
Foi chamado o governador para reinaugurar a ponte, fizeram uma pracinha e colocaram busto de bronze, placa de homenagem e dedicatória, tudo com esmerado agradecimento pelos serviços prestados à comunidade.
E Emiliano Zapata da Silva compareceu a solenidade e também a reinauguração da ponte e apesar de não entenderem, atenderam ao único pedido do único descendente do ilustre Tenório da Silva. E constou na placa o pedido de Emiliano. E lia-se:
“QUANDO VEM A SOBERBA, VEM TAMBÉM A DESONRA; MAS COM OS HUMILDES ESTÁ A SABEDORIA”. [Provébios 11-2]

Ensaiando um conto...
Paulo Roberto Wovst Leite.

domingo, 8 de maio de 2011

CADA DIA SE BASTA (parte 3)

ATÉ QUE A MORTE OS...

Emiliano não podia entender a mãe com os olhos arregalados, aquele pavor em sua face não combinava com a docilidade que transmitia e cultivava. O mais intrigante era aquele sorriso no rosto do pai, parecia mais uma nova faceta. Morreu com um charuto numa mão, o controle remoto na outra e um copo de conhaque pela metade, comentou ao seu ouvido um bajulador.
Toda aquela gente, todos aqueles pêsames e lhe ocorreu que não teria nenhum dos dois, nem mesmo para nunca mais.
O pai sempre fora popular, a mãe sempre estivera ao seu lado, nada mais original os dois ali lado a lado como sempre. Ajeitou o bigode, lembrou-se de algo que lera um dia sobre a vanidade da vida; olhou de novo para o pai inerte e teve náuseas.

Ensaiando um conto...
Paulo Roberto Wovst Leite.