AOS ARREDORES
Grito, grito,
alto, alto,
conto até quatro
e avante,
na platéia,
no palco,
enceno
e faço parte da vida,
desempenho papéis,
muitas vezes não os quero.
Você está muito irritado,
diz um.
Você é perfeito,
parece-se comigo,
diz outro.
Estou triste
e acuado,
digo a mim mesmo.
Cavalo doido desembestado,
mordendo,
dando coices,
o rei quer domar
está natureza selvagem,
o rei quer ser senhor desta vida,
quer pintar-lhe um quadro bem comportado,
para expor aos seus súditos
O rei quer adoração,
não quer ficar aborrecido
e se preciso for,
salva ou perde pra sempre,
tem um estrado abaixo dos seus pés,
tem uma abóbada acima da cabeça.
Sim dele é sim, não dele é não,
pra ele é sempre talvez...
Passou na tv que um cara
explodiu e levou com ele
um mêtro numa estação do centro
de uma cidade grande,
muita gente aliviada mudou de canal,
parece bom,
parece mau,
é apenas desequilibro.
O rei quer oração pra prolongar seu reinado,
quer impostos pra encher seus celeiros,
quer virgens para aquecer seu corpo,
quer passear de carruagem,
quer ser saldado,
quer ouvir vivas e salves,
tem sempre um menino ao seu lado,
para sorver-lhe a jovialidade.
Tem um rio que corta a cidade
que dá carpa de doze quilos
de pura merda,
um cara me ofereceu um pedaço
e ficou estupefato pela negativa,
disse que o fogo mata tudo,
ocorreu-me que talvez o cara que explodiu no mêtro
pensasse como ele.
O rei não gosta de ser contrariado,
tem o segredo nas mãos
e uma missão,
súditos e mais súditos.
Grita, lobo!
E o soldados fuzilam imediatamente,
o primeiro tiro no meio dos olhos
e o de aviso pro alto.
Tenho que ficar longe,
preciso ir embora,
voar, voar, voar, voar, voar, voar, voar...
Alto, alto,
grito, grito.
TIRANIA DOS SENTIDOS,
PAULO ROBERTO WOVST LEITE.
De boa casta esta mensagem chegou até esta margem do oceano.
ResponderExcluirSaudações,
ASA