sexta-feira, 22 de abril de 2011

CADA DIA SE BASTA (parte 2)


HORÁRIO NOBRE

Elisa já se acostumara a ver o marido assim, na verdade não o conhecera diferente, mas ultimamente andava magoada e a voz de seu pai parecia viva dentro de si lembrando-lhe os defeitos de Tenório.
Elisa sempre dedicara ao seu homem um amor de menina moça, apaixonada, impressionada com as vociferações, discursos e a habilidade dele com as palavras, orgulhosa com os seus muitos compromissos, com toda aquela gente importante que lhe ligava, procuravam-o ou surgiam no portão chamando-o a qualquer hora.
E lá estava Tenório, controle remoto numa mão, charuto na outra e um copo de conhaque a espera, olhou-o fixamente e surgiu-lhe um espanto, um arrepio, uma coisa, correu pro telefone, mas no caminho precipitou-se ali mesmo, na ante sala, olhou pro lado e viu o pai deitado numa maca, morrendo no hospital, segurando-lhe a mão e falando (não como no dia do acontecido com voz fraca e trêmula) com voz firme e dura:
_Filha o que me importa aquele glutão ocioso, acaso nessa hora precisaria eu ouvir alguma mentira daquele falador!
Voltou-lhe a visão da sala e a lembrança, precisava falar com Emiliano, não conseguia se mover e temeu e gritou por Tenório e ouviu-o dizer:
_ Agora não Elisa, vem cá você!

Ensaiando um conto...
Paulo Roberto Wovst Leite.

4 comentários:

  1. um dia de cada vez, não deve haver outra medida...

    talvez a melhor sensação de escrever e quando sabemos que do outro lado, há aquele que vai ler o subtexto do que foi publicado...fico feliz que teus olhos sempre capturam essa mensagem cifrada que vai nas entrelinhas.

    obrigada

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  2. Quando li Antonio Lobo Antunes, fiquei sem saber se era um psquiatra-escritor ou um escritor-psiquiatra. Todo aquele universo de sua formação, nos perturbando de dentro...do inadmissível de nós. Diga a Elisa que Tenório não vai atender. Agora não.

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  3. A bem da verdade diga a Elisa logo de uma vez, que ele não irá agora nem depois, é pra ela continuar chamando que ele diz AGORA não, sem nenhuma pretensão de que se faça um depois.

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