sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

DIGITAL

De reflexão em reflexão vou seguindo
Passando por muitos momentos alegres
Algumas tristezas também,
Mas guardando no peito minhas experiências.
Não me tomes por mau,
Todos temos momentos difíceis,
Se faço o mal que não quero,
O bem que habita em mim me faz prosseguir.



RETINA

Um dia bonito não necessariamente precisa ser de verão...

Se dá conta às vezes que uma cuia de chimarrão num dia frio
E um olhar perdido pela janela,
Traz-me as mais lindas lembranças.
E me faz querer fazer as mais lindas ações,
Nascidas de um sonho, uma esperança.
Mastigando silêncio me coloco a pensar em muitas coisas,
Contemplo muitas outras.

Emoções me ocorrem maneando passado e presente
Motivo de alteração de percepção.
Gosto de observar as crianças em suas brincadeiras sem relógio
Nem compromisso, a não ser com a alegria de viver,
Sendo puras, me lembrando que puro fui.
Não gosto de conversa fiada, nem chocarrice de tolos,
Que passam a vida a invejar as vitórias de outrem
E maldizem o amor, fazem juízo e não se dão ao respeito.



SENSORIAL

Gosto de pedir licença ao entrar e ao sair.

Não acredito em destino, muito menos predestinação.
Um bom vinho o é e só.
Com uma boa companhia,
Boa música e boa conversa o é melhor ainda.
Conheço muitas formas de se comunicar,
Mas não conheço uma melhor que a dos sentidos,
Temos cinco, lembra?



SONORO

Nem sempre sou compreendido, nem sempre compreendo os outros.

Quando tinha doze anos completos, li um livro chamado a lua,
Talvez soe ridículo admitir, mas hoje vinte e sete anos se passaram.
E ainda não andei por lá.
Houve um filho de homem ao qual devotei meus ouvidos por muitos anos
E segui seus toques e perambulei pelos corredores de muitas bibliotecas,
Nem uma de Alexandria é bem verdade,
Mas me dediquei a ir mais além.


Vi o ocaso daquele homem num show em junho de oitenta e nove,
Fiquei bem em frente ao palco e quando avistei sua entrada
Uma multidão gritava e se apertava e meu amigo chorava me abraçando
Fiquei cego literalmente e perdi também a audição,
Foram longos minutos e quando retomei meus sentidos o que vi
Foi uma massa de desorientados, e o Raul morto ali ao lado
De um estereótipo moldado a álcool e cocaína.

E soube que tinha de continuar em frente.


Dia desses um garoto de doze anos me questionou a respeito
Como era viver naquele tempo, coisa e tal.
Lamentou não ter minha idade,
Dizendo que devia ter nascido naquele tempo.
E continuou me falando do que vi, como se fosse novidade,
Sem ver que ele pode ser a novidade que ainda está por vir.
Retruquei-lhe que se tivesse a idade de seu pai, o seria o próprio.
Tu achas que ouviu?

Eu também não ouvi,
Tu também não ouviste e
Ele te cantará sapato trinta e seis,
Foi um longo percurso até aqui,
Queres eleger um deus para te destruir?
Macho e fêmea te fez
Soprando-lhe nas narinas seu espírito,
Homem te fez.



FRAGRÂNCIA

Quando olho através da janela, é triste o que vejo.

Como não imputar-nos o que vivemos,
Lamentável é perceber em cada corpo, instintos a nos dominar.
Da paixão ao nos entregarmos à tirania de querer conquistar,
Que valia tem um rude dentro de casa
Que não fora se entregar ao trabalho
E lhe trazer o sustento
Farsa, erro ou engano?



SALIVA

O rei sábio falou e faz muito tempo, bem mais que dois mil anos.
E como era de costume um escriba conservou para a posteridade
Uma máxima ou quem sabe uma pérola:
“Tomará alguém fogo no seu seio, sem que as suas vestes se queimem?”.
Ou andará alguém sobre as brasas, sem que se queimem seus pés?”.

O que sabemos do amor e do ódio,
O que temos é paixão.
Comendo do fruto, abriram-se-lhes os olhos e conheceram o bem e o mal.


Com um trafegar contínuo, continuo.

Falando sozinho, olhando pela janela.
E porque este sorriso?

Por que sim é resposta.

Quem tem pena de quem se acha potente,
De quem com a cara lavada
Esconde-se por trás de uma posição,
Chorando a vida vivida, implorando consideração.

Quem ri das gentes das cidades
Tão distantes de si mesmas,
Aprisionadas em seus afazeres
Passando de lá para cá,
Em seus automóveis altamente poluidores.
Surgindo nuas na rua asfaltada,
Levitando para não queimar os pés.

Comiseração! 





PAULO ROBERTO WOVST LEITE
Tirania dos Sentidos

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