ESPÍRITO NA NOITE

O fantasma se assombra
com a pequenez dos dias idos
as marchas de soldados juvenis
indo pra guerra
ardendo em suas paixões varonis.

Um novo tempo sem a depressão
sem Vietnãs, Golfo Pérsico ou Afeganistão.
O orgulho ferido,
a ferida fétida,
um cachorro comendo
o próprio vômito.

O fantasma errante agora
transborda e chora seus poucos
anos vividos.
Seus olhos de azul intenso,
um bebê muito lindo,
uma mãe super contente
o embala em braços roliços.

O bebê tem alimento,
carinho e abrigo.
Tem bosques e cheiro de eucalipto
e a lua é logo ali
e o sol é logo ali.

Basta um sorriso,
basta um piscar de olhos,
basta sonhar e sonhar.
E brincar e cantar
e dançar ao tempo
o corpo solto, o espírito livre.

Os melhores dias
ainda estão por vir.
As melhores canções
ainda estão por ser compostas.
O bebê não é estúpido,
é pura inocência.

É simplesmente um fantasma
de lindos olhos azuis.
Pode voar,
pode nadar,
pode correr.
Não há limites, muito menos fronteiras,
não há bilhete de passagem,
nem passaporte com carimbo.

Só uma gaitinha soando
um folk suave,
sem bandeira, sem dono.
Composto por alguém num dia frio
e carregado pelos trilhos do mundo
numa velha Maria Fumaça.

Nem alegre, tampouco triste,
mas carregada de paixão.
Daquelas canções sem refrão,
carregadas de sentimento,
carregadas de suor,
carregadas de dias.

Mas mesmo com tanta liberdade
o fantasma escolheu o banco da praça,
escolheu um céu de inverno,
escolheu deixar rolar,
rolar mais uma lágrima.


PAULO ROBERTO WOVST LEITE

Tirania dos Sentidos

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